Relato Projeto SARAMARÉ 2010 (Viagem de bike
Salvador/Aracaju/Maceió/Recife)
Galeria de fotos do Projeto SARAMARÉ
Um sonho permeava a mente de vários amigos apaixonados pelo pedal:
viajar de Salvador-BA a Recife-PE de bike, mas evitando estradas movimentadas e
curtindo uma parte do belíssimo litoral nordestino e seus locais mais
pitorescos, num percurso bem relaxado e muito atrativo, em cerca de 09 ou 10
dias sem pressa e num ritmo tranquilo.
Assim surgiu a ideia do Projeto
SARAMARÉ 2010, que consumiu alguns meses de planejamento e muitos preparativos,
a começar pelo número de ciclistas, não muito grande e aos pares, para facilitar
a logística das acomodações nas cidades escolhidas para pernoite.
Então, ficaram definidos 04 amigos de longa data para esta aventura, listados
por ordem de idade: Margson Augusto(55), Luiz Vale(53), Marco Leal (52) e
Daniel Rios(33), o mais “chupeta” do grupo entre tantos “velhinhos”...O
somatório das idades? Bem, deixa pra lá, é muito alto...E isso tudo ainda em
plena Copa do Mundo de Futebol, mas com o Brasil já eliminado, o que nos
deixava à vontade só pra pensar em pedalar...
Nossas bikes? Margson com uma
Kona Cinder Kone laranja, Luiz com uma Mônaco preta, Marco com uma Kona Fire
Mountain vermelha e Daniel estreando uma Specialized aro 29, de cor branca, mas
com fita adesiva preta para proteção e camuflagem...Todas elas tipo MTB,
prontas para as trilhas que deveríamos enfrentar.
Mapeamento feito através do Google
Earth e do Guia Quatro Rodas, tábua de marés, regime de ventos, previsão do
tempo na região, check-list, metas diárias e locais de pernoite, tudo em dia!
Divisão de suprimentos e ferramentas entre todos, decidimos que partiríamos de
ônibus da Itapemirim, de Recife para Salvador, às 18:45hs de um domingo, dia 04 de Julho de 2010, iniciando nossa aventura
logo após a chegada, já na manhã seguinte.
Despedidas calorosas das respectivas famílias, uma oração conjunta para
pedir a proteção divina para a nossa “loucura”, na hora do embarque surgiu logo
o primeiro problema: o despachante das bagagens, primeiro, não queria embarcar
as bicicletas; depois, disse que só iriam se sobrasse vaga após o embarque das
bagagens dos passageiros; por último, após muita negociação com o Marco,
aceitou que nós mesmos colocássemos as bikes lá embaixo, amarradas com sticks,
mediante a quantia de R$ 20,00 cada uma, por excesso de bagagem; nova rodada de
negociações e o Marco fechou por R$ 10,00 cada bike, o que deixou tudo em paz,
finalmente, para partirmos.
Com mordomia a bordo (TV, ar condicionado, lanchinho e cobertor!),
partimos para Salvador no horário certo, com previsão de 13 horas de viagem,
uma a mais que o normal, já que iríamos por Caruaru-PE e Messias-AL nas BR-232
e 104, devido à BR-101 estar interrompida por causa das enchentes em Palmares-PE.
Numa parada perto de Aracaju para um xixi, no meio da madrugada, o ônibus
deixou o terminal de passageiros para ser limpo na garagem, o que deixou o
Daniel perplexo e desesperado vendo o ônibus ir embora...Coitado, que susto,
pensou que ia ficar!
No caminho, ficamos de olho na estrada que iríamos passar em pouco
tempo, principalmente a Linha Verde, entre Aracaju e Salvador. Assustou a gente
pela chuva, pelos longos trechos sem apoio de postos ou cidades, e pela beleza
da estrada sem movimento e um belo acostamento...
Chegamos numa rodoviária pequena, bem acanhada e já íamos desembarcando,
quando o motorista anunciou Camaçari...Voltamos, lógico, para nossas
confortáveis poltronas, curtindo de montão aquela maciez que em breve nos
deixaria saudades...Trocar pelo selim das nossas bikes não parecia uma grande
pedida, né?
Finalmente chegamos em Salvador, às 09:10hs do dia 05 Jul, com uma hora
de atraso devido ao horário de rush na capital baiana, ainda um pouco cansados
pela noite mal dormida, mas muito ansiosos pra começar nosso pedal. Aí, no
desembarque, chega um passageiro do nosso ônibus, muito gaiato, e brinca:
“Ainda bem que vocês não vão pedalar isso tudo pra descontrair, hein?” Tomou o
maior susto quando dissemos que sim, na verdade íamos fazer isso tudo de volta
só pra descontrair...Ficou com cara de bobo e boca aberta, mas no fim desejou
boa sorte pra nós, como todos no ônibus...Quanta loucura, devem ter pensado!
Após o desembarque, montagem completa das bikes na configuração de
estrada, nos equipamos completamente, com todos os itens de segurança
inclusive, e partimos para um lanche reforçado na rodoviária mesmo, fazendo o
famoso “marmitão” da manhã pra aguentar um dia inteiro de pedal.
Umas fotos iniciais da nossa aventura na bela Salvador, e partimos às
09:50hs para o nosso primeiro dia de pedal rumo à Praia do Forte-BA, meta final
e local do primeiro pernoite, 70 Km planejados pra ir acostumando nosso
organismo e as “partes baixas”, ou o “caminho das índias”...
Ficamos espantados com o redutor de velocidade(lombada) na ciclovia e
também na faixa de pedestres na orla baiana, deve ser pra não ultrapassar o
limite de velocidade, ou pro baiano não ficar cansado...Foi devidamente
registrado em fotos, pra poderem acreditar na gente...Margson aproveitou que
íamos para a Bahia e comprou pra bicicleta dele umas tampinhas de pneu com
luzes que acendiam em movimento, na frente azul e atrás vermelha...E o Luiz com
um monte de fitinhas do Senhor do Bonfim no guidão...Tudo coisa de baiano!!!!
Mas útil, né?
No caminho para a Praia do Forte, algumas curiosidades: a barraquinha de
bananas do Sr. João (mesma idade do Margson, mas bem acabado por causa da
bebida), onde acabamos com seu estoque da fruta e nos indicou que faltavam só
12 Km quando, na verdade, faltavam 40 para chegarmos...E três “bichas loucas”
que ficaram doidinhas pelo Marco numa praça que paramos em Arembepe pra
hidratar (que derrota!!!)...
Chegamos, pela Estrada do Côco (duplicada e ótimo acostamento), na Praia
do Forte, um local muito aprazível e charmoso, às 16:45hs e rumamos direto para
a Pousada Mirante do Forte, do amigo carioca do Margson, o Marco Aurélio, muito
boa-praça e que nos levou pra comer a nossa primeira macarronada da jornada, de
longe a pior delas...Porque? Apesar de saborosa, era muito pouco macarrão, daí
o nome: macarrãoNADA... Pagamos R$ 96,00 no total, um absurdo, saímos ainda com
muita fome e fomos direto para uma padaria comer pão doce pra encher a
barriga...Aprendemos, né?
Bem, neste primeiro dia de viagem, foram 81 Km percorridos (aferidos com
a marcação da estrada), 17 Km/h de média, somente uma chuva, 21 subidas
(paciência pra contar todas elas...), um ótimo pernoite por R$ 40,00 cada um.
No dia seguinte, 06 Jul, após um reparador descanso, surpresa: o
primeiro pneu furado, o dianteiro do Margson, consertado antes do
café-da-manhã. Lógico que, com o barulho, acordamos quase todo mundo na
pousada...
Tomamos
um excelente café, preparando o “marmitão” para o dia inteiro de pedal e
partimos para algumas fotos da bela praia, da igrejinha e da vila (muito
simpática!). Como não podia deixar de ser, Marco e Daniel, ainda não
satisfeitos com o pedal do dia anterior, deram uma volta num quadriciclo de
aluguel para turistas, fazendo muita algazarra e pagando o maior mico em plena
pracinha...
Paradinha
pra comprar água numa mercearia, e partimos para a estrada às 09:10hs, um pouco
mais tarde que pensávamos, com destino a Sítio do Conde-BA, distante cerca de
100 Km dali, pela Linha Verde, agora em faixa simples, mas com ótimo
acostamento e poucos pontos de apoio. Num destes, um posto com restaurante, o
Margson, com muito estardalhaço na chegada, quase leva o tombo mais gozado do
mundo, sentado no chão, e provoca muitas risadas de todos que passavam...Ia esquecendo
de tirar o pé do pedal com clipe...
Neste segundo dia, surgiram as primeiras subidas, algumas monumentais
mesmo, nos desafiando o tempo todo. A média teimava em ficar baixa, a viagem
não rendia, as chuvas aumentavam de intensidade e, para piorar, a proximidade
do pôr-do-sol e a perspectiva de cair a noite na estrada, e com muita
chuva...Marco e Daniel foram na frente pra não pegar a noite, chegando às
17:45hs. Margson e Luiz pegaram um pedal noturno legal com lanternas, um relax
na escuridão...No caminho, um bêbado na pista quis dar um abraço no Luiz...
Quando chegaram em Sítio do Conde, às 19:00hs, já estava engrenada a Pousada
Natureza, do amigo Bito, e uma belíssima macarronada, com fartura, que pagamos,
no total, R$ 25,00 com prazer. Por este pernoite, pagamos R$ 20,00 cada um, que
valeu muito a pena, apesar de não ter café-da-manhã.
Como saldo do segundo dia de aventura, foram 108 Km aferidos, média 17 Km/h,
84 subidas e 03 chuvas, a última muito forte, já perto do destino, nos deixando
ensopados.
No dia seguinte, 07 Jul, o terceiro dia de viagem, roupas lavadas e
limpas, esquecemos a cordinha do varal que fizemos no próprio quarto da
pousada, e saímos pra tomar café já totalmente equipados. Achamos um bom café
numa outra pousada perto da praia (Hotel Pousada Oásis), onde Marco negociou com
o Val e fechou por R$ 8,00 cada um, o que foi uma salvação, não tinha pão na
única padaria do lugar...
Fizemos umas fotos da praia de Sítio do Conde, verificamos que a maré já
estava enchendo, e aí surgiu o nosso primeiro impasse: se conseguiríamos ir
pela praia para Mangue Seco-BA, a nossa grande dúvida na fase de planejamento
da viagem. O Google Earth é impreciso na região, os mapas consultados não têm
confiabilidade por causa da área inóspita e, aparentemente, todos que
perguntamos só conheciam o caminho normal pelo asfalto.
Pegamos a opinião de várias pessoas da cidade, e o Margson perguntou
para um senhor de idade o caminho para Siribinha, ali próximo, e ele disse
simplesmente: “Vá!”. Dá pra imaginar a cara de bôbo do Margson pela boa
informação...Logo descobrimos que, mesmo seguindo para Siribinha (virou apelido
no grupo...), uns 12 Km adiante, teríamos que transpor um rio, não era
garantido que conseguiríamos um barco para a travessia, e ainda teríamos que
seguir pela beira-mar com a maré enchendo...Muito arriscado, mas Margson
desejava mais isso que as longas subidas da estrada asfaltada...Decidimos
voltar para Conde, já no caminho para o asfalto da Linha Verde, onde teríamos
mais informações confiáveis sobre o nosso itinerário do dia.
Foi então que dois motoristas de táxi tiraram nossas dúvidas de vez,
eliminando o mal-estar e a polêmica no grupo, já que a metade queria ir por um
caminho, e o restante por outro. Nos disseram que, se a maré estivesse seca,
poderíamos ir até o Lago Azul pelo asfalto e depois pegar a beira-mar com certo
esforço, o caminho de carros 4x4. Mas com a maré cheia, só mesmo pelo asfalto
até Pontal, já em Sergipe, pegando o barco para Mangue Seco, voltando para a
Bahia. Todos, então, concordaram em aceitar a sugestão dada, optando pelo
asfalto mesmo.
Recomeça, então, a sucessão de subidas gigantescas, uma atrás da outra,
causando enorme desgaste em todos. Numa dessas verdadeiras escaladas, Marco e
Daniel subiram na frente e, enquanto aguardavam Margson e Luiz, passou um
motoqueiro e brincou: “Tem dois caras morrendo e empurrando as bicicletas lá
embaixo!” Gaiato...Na verdade, era preciso só muita paciência e muita força nas
subidas...
Noutra ocasião, Margson teve o pneu de trás furado com vidro, e fez
sinais para os carros avisarem ao Daniel e Marco para voltar e ajudar...Pneu
consertado, mochilas no lugar, pouco adiante furou de novo...Troca de câmara,
desta vez até o pneu dele foi trocado pelo reserva que o Luiz levava, foram
quatro paradas pra consertar o pneu traseiro do Margson, até que finalmente
tudo ficou certo e tivemos condições de prosseguir a viagem...Que sufoco!!!
Já na divisa da Bahia com Sergipe, num barzinho que paramos pra
descanso, alimentação e hidratação, o Marco pagou o maior mico da viagem. Como
a gente pedalava, pedalava, não saía da Bahia, e a ponte da divisa estava logo
à frente, ele brincou alto: “Sorria, você está saindo da Bahia!” Aí o Luiz
olhou em volta, um monte de baiano brabo olhando pro Marco, e disse que muita
gente ali não gostou da piada, a mulher que atendia falou logo que não, só
depois da placa e da ponte...Marco olhou pra trás e, além de todos ao redor, um
velhinho de chapéu tomando guaraná, chamado Sr. Ary, estava fuzilando-o com o
olhar...Mais que depressa, ele remendou: “Sorria, você ainda está na Bahia...!”
Mas a besteira estava feita e, mesmo tentando ser simpático depois com o Sr.
Ary, perguntando meio sem graça um caminho que já sabia, o mesmo ficou
repetindo sempre muito alto e num tom bem irônico: “Tudo é Brasil, tudo é
Brasil...” Pagamos a conta e saímos voando dali, com medo até de alguém
perseguir a gente na estrada...Que derrota!!
Chegamos, finalmente e já aliviados, ao Pontal-SE, por uma estrada com 9
Km de terra e um pouco de lama, para pegar o barco pra Mangue Seco-BA, por
volta das 16:00hs. O Marco acertou a negociação da travessia com o barqueiro
chamado Manoel, que acabou cobrando R$ 35,00 naquele dia e mais R$ 60,00 na
travessia do dia seguinte, de Mangue Seco-BA para Porto do Mato-SE, onde está a
balsa que leva os carros, e está sendo construída uma grande ponte para
completar a Linha Verde de Salvador a Aracaju.
Tínhamos muito interesse em conhecer Mangue Seco, onde foi filmada a
novela Tieta do Agreste, um local humilde, mas muito acolhedor, com belíssimos
cenários de rio e mar. Chegamos às 16:50hs, após 15 minutos de travessia, e
ficamos encantados com a hospitalidade do Júlio e da Miriam, da Pousada Grão de
Areia, que fizeram um macarrão maravilhoso pra nós, com carne e tudo, por
apenas R$ 20,00 no total. Pelo pernoite, depois de uma breve negociação, foram
cobrados apenas R$ 25,00 de cada um.
Findo o terceiro dia, percorremos 74 Km, enfrentamos duas chuvas, média
caiu para 15 Km/h por causa das 66 subidas, mas a moral aumentou muito graças à
beleza do local.
No dia seguinte, o quarto dia de viagem, dia 08 Jul, alvorada bem cedo,
saímos às 06:00hs, sem café, para conhecer a vila (tem igrejinha, tem até um
“shopping” de madeira...), as dunas onde antes havia um manguezal (daí o nome
Mangue Seco) e a praia muito bela com ovos de tartaruga do Projeto Tamar. No
início do passeio, quem acompanhou a gente foi um cachorrão bem simpático, tipo
amigão mesmo, amarelo e bem manso, que o Luiz apelidou de Quinta-Feira, por
causa do dia da semana e em alusão ao filme do Robinson Crusoé, “O Náufrago”,
que tinha o Sexta-Feira. No final do passeio, na volta à pousada para o café,
nosso amigo Quinta-Feira achou a sua dona, uma menina de uns 10 anos que procurava
por ele para alimentar, e nos disse que ele gostava de seguir os turistas, seu
nome era Melo. Nem nos despedimos dele direito, não rolou nem uma barrinha de
cereais pra ele, achamos que ele ficou meio frustrado...Valeu pela companhia (e
pela diversão de correr atrás dos pássaros quero-quero), Quinta-Feira!
Nossa estadia foi muito
prazerosa, no café farto servido pra gente não sobrou nada, só um pedacinho de
bolo que ninguém aguentava mais...O “marmitão” daquele dia estava garantido...Levamos
ótimas recordações de Mangue Seco, incluindo conchinhas achadas na
praia...Pedimos ao Manoel, por telefone, para antecipar nossa travessia para as
09:00hs (combinado era para as 10:00hs), no que fomos plenamente atendidos.
Iniciamos nossa jornada no quarto dia às 10:00hs, após 25 minutos de
travessia de Mangue Seco-BA para Porto do Mato-SE, num cenário belíssimo que
não sairá da nossa memória tão cedo...Nosso destino era Aracaju-SE, na estrada
encontramos muitas subidas e um bom velhinho que nos deu informação muito
precisa da quilometragem à frente, muito obrigado e que Deus o abençoe!!! No
meio do caminho, parada na Padaria da Marleide para alimentação e hidratação, e
acabamos cruzando com um burrinho que ficou relinchando com a genitália
“animada” ao ver o Margson, o último do grupo a passar por ele...Que paixão,
hein??
Aproveitamos pra fazer xixi e tirar umas fotos da nova ponte de 1 Km que
cruza o Rio Vaza-Barris, no acesso a Mosqueiro, pouco antes da chegada em Aracaju.
Acontece que a partir de então, o Luiz ficava atormentando o Daniel,
perguntando sempre o nome do rio, até que o pobre acabou gravando de uma vez
por todas...
Chegamos em Aracaju às 15:00hs, mas ainda
esperamos passar uma chuva à nossa frente pra não chegarmos na casa da cunhada
do Margson, a Denise, nosso destino, inteiramente molhados...
Neste quarto dia, fizemos mais 62 Km, 16 subidas para uma média de
passeio de 15 Km/h no trecho e somente uma chuva no caminho.
No apartamento da Denise, à beira-mar,
tivemos total conforto, com roupa lavada na máquina e varal na varanda pra
secar, no estilo favelão mesmo, que vergonha!!! Ela é muito legal, um bom papo,
gosta de aventuras e viagens, já fez até rally, entende bem essa nossa “loucura”,
e nos deixou muito à vontade inclusive quanto à alimentação, oferecendo sempre
o melhor, sem custo algum para nós. Procuramos deixar tudo arrumado, mas a
bagunça é inevitável desde a chegada até a hora de partirmos, o que deve ser terrível...Nossos
sinceros agradecimentos à melhor estadia da nossa viagem, por tudo que passou por
nós ela merece mesmo uma vaga no céu!!!
No quinto dia de viagem, 09 Jul, acordamos muito cedo, pois teríamos a
mais longa jornada da nossa aventura. Tomamos um ótimo café-da-manhã com
lazanha, omelete e pão com queijo e presunto, que o Margson fez pra nós, com
tanto carinho, que queria levar pra comer na estrada...Deixamos a casa da
Denise às 05:50hs, sem acordá-la (será mesmo???), pra ganhar tempo aproveitando
o máximo de tempo claro naquele dia.
Este trecho já era de conhecimento do Marco e do Margson, como todo o
trajeto restante até em casa, do Projeto Aramaré (Aracaju/Maceió/Recife),
realizado de bike, com sucesso, em 2009, mas com menos chuva e lama. Portanto,
já sabíamos a “pauleira” que teríamos pela frente...
Quando atravessamos a ponte sobre o Rio Sergipe, na saída de Aracaju,
pegamos duas chuvas e, no intervalo entre elas, furou o pneu traseiro do Daniel
por três vezes, com vidro. Devido ao peso das bikes, aprendemos a usar a cerca
de arame farpado como macaco de apoio, facilitando o conserto sem desmontar as
bagagens.
Até que começou uma chuva medonha, a maior de todas, que durou mais de
50 Km, ou seja, mais de 03 horas com chuva e frio, até passarmos Pirambu e
pararmos numa padaria e numa mercearia para xixi, alimentação e hidratação. O
tempo só melhorou na “Ladeira da Morte”, como chamamos, perto de Japaratuba.
Esta sim, nos esquentou por ser bem íngreme, e antecede o estradão de terra e
lama para Lagoa Redonda, durando exatos 50 Km até encontrar o asfalto para
Pacatuba (lado esquerdo) ou Brejo Grande (lado direito).
Neste caminho, paramos para comer uma ótima coxinha com Coca-Cola em
Lagoa Redonda, além de nos divertirmos com um depósito de construções que vende
“lajes e virgas”...Passamos ao lado da Reserva Biológica de Santa Isabel, com
suas formações de dunas e alagados que apelidamos de “Lençóis Sergipanos”,
incluindo um poço de petróleo bem ao lado da estrada, ambos mereceram umas
fotos de lembrança.
O sobe e desce é uma constante nessa estrada de terra, o que, juntamente
com a lama e as poças, fizeram a nossa média neste trecho não passar de
incríveis 08 a 09 Km/h...Para uma melhor noção do nosso esforço, foram cinco
horas e meia pra percorrer estes infindáveis 50 Km...
Para dar mais emoção, o Daniel, que ia à frente num determinado momento,
levou uma corrida de um cachorrinho e, logo em seguida, de um cachorrão cinza,
grande, que o fez pedalar feito um louco, deixando o pobre assustado e branco
por muito tempo...Quanta emoção!!! O restante do grupo ainda ganhou uns
latidos, mas o Daniel ficou traumatizado pelo resto da viagem...
Finalmente, já no limite do pôr-do-sol, às
17:35hs, alcançamos o bendito asfalto, que não chegava nunca...Cada pessoa que
perguntávamos dava uma distância diferente, parecia que os quilômetros aumentavam
ao invés de diminuir...Fizemos uma hidratação rápida e decidimos assumir um
risco calculado, percorrendo os 20 Km para Brejo Grande, para a direita,
totalmente noturno e sem a luz da Lua. Daniel foi iluminando o caminho, com seu
farol poderoso, Luiz e Marco no escuro mesmo, seguindo Daniel e Margson num emocionante
e nada recomendável “vôo por instrumentos”...
Chegamos, afinal, a Brejo Grande-SE, às margens do grandioso Rio São
Francisco, o Velho Chico, de tanta história e tradição, bem à noite, exatamente
às 19:05hs. Exaustos, mas felizes, rumamos direto para a Pousada das
Mangabeiras, da Tia Neuza, que nos recebeu com um largo sorriso. Marco e
Margson já a conheciam da viagem de bike do ano passado, perguntaram pela
pequena Bianca (Margson tinha dado uma garrafinha de bike pra ela beber água
mineral na escola, não a água do rio!!!), sua filha, agora ela estudava em
Aracaju pra se tornar advogada, o seu sonho...Enquanto isso, o nosso macarrão
de todo dia estava sendo preparado com muito carinho...
Do jeito que estávamos mesmo, ainda sujos e cansados, encaramos com
enorme alegria um panelão de macarrão do tipo parafuso, com molho de tomate e
tempero bem caseiro, que devoramos com vontade. Afinal, neste dia, foram mais
de 13 horas de pedal, uma loooooonga jornada que deixou todos bem
destruídos...Foi uma etapa muito dura, não só pela distância (110 Km) e tempo
total, mas também pelos 50 Km de estradão de terra e lama, as chuvas fortes e
os pneus furados, deixando muito pesado o nosso pedal, gastamos muita energia a
mais...
Acontece que o macarrão da Tia Neuza era
muito para nós, e deixamos metade do panelão para o café-da-manhã do dia
seguinte...Precisávamos era de cama e repouso! Não sem antes o Marco assistir
ao Jornal Nacional e ver a previsão do tempo, como todas as noites, já que o
inverno no Nordeste, este ano, é de chuvas anormais...Como vimos que nada seria
muito diferente do que tínhamos passado, decidimos dividir a etapa do dia
seguinte para Maceió em duas, devido ao dia cansativo enfrentado, e pelas
longas subidas que teríamos pela frente, mais que conhecidas no ano anterior
pelo Marco e Margson...Seriam “apenas” cerca de 70 Km para Duas Barras-AL, e
mais 70 Km no outro dia para Maceió-AL. Assim, nossa viagem passaria para 10
dias totais, e o Luiz começou a temer ser despedido do trabalho, sua licença
era só para 10 dias, nada podia dar errado...Lógico que ligou pra avisar a
chefia!!! Os demais do grupo estavam de férias, mas ele não...
Neste quinto dia, metade da viagem, foram percorridos mais 110 Km (435
Km no total), subimos mais 73 ladeiras de todos os tamanhos (total de 260) , a média
geral caiu para apenas 13 Km/h e pegamos três chuvas fortes (total 10, até ali).
Pelo pernoite, macarrão e café, Tia Neuza nos cobrou apenas R$ 27,00 de cada um,
que pagamos com prazer...
No dia seguinte, 10 Jul, acordamos renovados e encaramos o panelão de
macarrão no café, apreciando a grandeza do Velho Chico e registrando os
afazeres dos nativos em fotos. Tudo gira em torno do rio, lavam roupas, bicicletas,
animais, recolhem água pra beber...Quanta fartura do precioso líquido!!! O que
víamos do outro lado não era a margem, mas a primeira de duas ilhas, até chegar
em terras alagoanas na outra margem do rio, que é a divisa entre Sergipe e
Alagoas. É muita água!!!
Bem, voltando ao macarrão: era tanto, que sobrou um bocado para os
filhos de criação da Tia Neuza...Que café caprichado!!! Fizemos um bom
“marmitão” para aquele dia...Como o percurso era menor, relaxamos quanto ao
horário de saída. Nos despedimos de todos, agradecemos pelo carinho e atenção,
tiramos mais fotos e ainda fizemos o barqueiro da travessia do rio esperar pela
gente se aprontando...É muita cara de pau!!!
Pagamos somente R$ 2,50 cada um pela travessia do Velho Chico, num barco
maior e com cobertura de PVC pra escapar da chuva que caía (sempre ela...) e,
depois de 22 minutos de água (muita água...), passando entre as ilhas pra
cortar caminhos e escapar das ondas e da correnteza, chegamos a Piaçabuçu-AL.
Pra escapar da chuva torrencial logo na saída para o pedal, nos abrigamos numa
tenda. Aí o Daniel teve a brilhante ideia de fazer uma botinha com saco
plástico, que conseguiu de graça, num depósito de material de construção bem
defronte. Ótima pedida, já que assim não ficaríamos com os pés encharcados
depois das chuvas...Marco aderiu à sugestão e comprou uma fita isolante a mais,
pra dar um melhor acabamento à botinha improvisada e deixá-la mais firme no pé.
Só não durava muito na sola, por causa do clipe, mas atingiu plenamente o
objetivo, apesar de ficar meio baiano também...Mais um motivo de gozação no
grupo!!! E as botinhas duraram até o final do dia...
Na saída, depois da chuva, ainda achamos o Lava-Jato do Max. Gentilmente
tirou toda a lama, terra e areia das nossas bikes, que foram depois devidamente
lubrificadas com óleo especial nas correntes, o Finish Line Seco, com teflon,
que não deixa grudar sujeira, apesar de durar menos na chuva.
Começamos, finalmente, nosso pedal no sexto dia às 10:00hs em ponto. A
chuva foi embora e o sol forte apareceu durante todo o tempo, obrigando a gente a reforçar o
protetor solar no caminho.
O sobe e desce foi intenso, pra espantar a monotonia a gente ficava
arrumando brincadeira um com o outro, pra depois tirar onda. Numa subida, o
Daniel foi na frente e de repente parou lá em cima. Quando a gente viu, começou
a balançar e brincar com uma cobra...Achamos que ele tinha perdido o juízo, ou
que o sol estava fritando os miolos dele...Nada, era uma corda que achou na
pista pra enganar a gente...Pouco depois, Marco e Margson pegaram dois
parafusos na estrada, um pequeno e outro bem grandão, pra brincar com os
outros. O Daniel, no início, até pegou o pequeno pra ver se não era da bike
nova dele, mas quando viu o grandão percebeu que era gozação...Mas o Luiz ficou
preocupado mesmo, tentando descobrir de onde eram aqueles dois parafusos...
Assim, o tempo passou mais rápido na estrada. Num posto em Coruripe, o
frentista Pedro indicou uma pousada boazinha no nosso local de destino, e logo
chegamos na Pousada Duas Barras, da Vanusia e Cristiano, às 16:15hs. Bem mais
inteiros que no dia anterior, ainda recompondo os músculos e “caminhos das
índias”, com uma média “de passeio” no asfalto e bom acostamento, mas quase uma
“mérdia”.
Aproveitamos pra conhecer e tirar uma fotos do vilarejo de Duas
Barras-AL, pequeno e muito bonito no encontro de um rio com o mar, com duas
barras próximas, daí o nome.
Nos deliciamos, como de costume, com um saboroso macarrão caseiro no
jantar, na própria pousada, muito aconchegante e bem rústica, no que pagamos R$
33,00 no total, cada um, pelo pernoite, jantar e café no dia seguinte. Nada
mal!
Foi então que, ainda de noite, o Daniel descobriu que tinha sido
premiado, mais uma vez, com o pneu traseiro furado, o quarto dele, igualando ao
Margson. Consertou e aproveitou pra fazer o rodízio nos pneus, o traseiro já
apresentava sinal de desgaste mais acentuado. Também se preveniu para rodar nos
acostamentos com sujeira e vidro quebrado, além da lama que viria dois dias
depois.
Neste sexto dia, percorremos somente
68 Km, mais 28 ladeiras na nossa conta, pegamos só uma chuva e a média de
passeio permaneceu em 13 Km/h.
No sétimo dia de aventura, 11 Jul, depois de uma noite de ótimo repouso,
fizemos o nosso tradicional “marmitão” no café e pegamos a estrada às 08:20hs,
com destino a Maceió-AL, numa velocidade média ainda de recuperação.
Até que o pneu traseiro do Margson furou de novo, a quarta vez dele na
viagem, sendo consertado por ele debaixo do maior “toró”, com direito a molhar
os “fundilhos” e tudo, sentado no chão alagado, enquanto ríamos da situação,
mas abrigados da chuva e do vento no meio do canavial...Que amigos, hein???
Ainda bem que a chuva durou bem pouco, e voltamos pra ajudá-lo a encher, com a
bombinha manual, as 50 libras de praxe, na base do revezamento pra não
sacrificar um só...
Depois
disso, as ladeiras mais acentuadas foram aparecendo e minando nossas forças,
até a chegada no Mirante do Gunga, perto de Barra de São Miguel, onde avistamos
Maceió ao longe e tiramos fotos. Nas últimas descidas, mais de 50Km/h de
velocidade e emoção, mas nas subidas até uma tartaruga “manca” passava a
gente...
Numa parada num posto para alimentação e hidratação, aproveitamos para
calibrar os pneus com as 50 libras habituais, e aí o Marco desconfiou que seu
pneu traseiro estava baixando, mas decidiu continuar até o destino. Mais
próximo, já em Maceió, calibrou mais uma vez, o conserto seria feito à noite na
pousada.
Tinha uma razão a nossa pressa em chegar logo: daria tempo de assistir à
final da Copa do Mundo, entre Holanda e Espanha, já no aconchego de uma boa
cama...
Chegamos no Hotel Saveiro às 15:25hs, a tempo de assistirmos ao jogo
desde o início, e vermos a vitória da Espanha por 1 a 0 no finalzinho, muita
emoção e uma bonita festa dos campeões. O Brasil? Esquece, fomos eliminados
pela Holanda, finalista, ainda nas quartas-de-final por 2 a 1, de virada,
quando éramos favoritos...O hexa fica para 2014 no Brasil, né????
Bem, saímos para jantar numa lanchonete
chamada, sugestivamente, de MacarrãoShow!!! Adivinha o que comemos??? Aquele de
sempre, o nosso bendito macarrão de todo dia, que devoramos com prazer por R$
13,00 cada um. O Marco, de forças renovadas, descobriu o primeiro pneu furado
em 07 viagens de bike, um pedaço minúsculo de arame causou a derrota da
“primeira vez”...Conserto feito, bikes prontas para o dia seguinte, com
perspectiva de muita lama até Maragogi-AL.
Neste sétimo dia, a conta foi a seguinte: 71 Km, mais 29 ladeiras, só
uma chuva, mais um pneu furado (o nono de todo o grupo dos
“Siribinhas”...),pernoite a R$ 25,00 cada, incluindo um ótimo café-da-manhã.
No
outro dia, o oitavo da nossa grande aventura, 12 Jul, após o “marmitão” saímos
às 08:20hs num bom asfalto, e logo deixamos a capital alagoana com chuva, nos
deixando apreensivos quanto ao trecho de lama depois de Barra de Santo Antonio,
com 18 Km de extensão. Perguntamos aos guias de turismo na entrada da cidade as
condições do caminho, mas eles acabaram nos deixando ainda mais enrolados,
estressados e confusos. Tínhamos três opções: a estrada asfaltada que acrescia
20 Km, e com muitas subidas (chiadeira geral...); o caminho de lama; ou a
beira-mar com a maré enchendo, passando pela Praia do Carro Quebrado e suas
altas falésias(que poderia se transformar na Praia da Bike Quebrada...).
Decidimos enfrentar a lama, um pouco a contra-gosto, mas o caminho
“menos pior” para nós, com a atenuante de não estar chovendo no momento. Lógico
que pegamos lama até a canela em alguns trechos, mas até que deu pra gente se
divertir com o show de equilíbrio no pedal...Tinha até urubu pousado na
estrada, seria carniça à vista??? Marco e Daniel foram na frente, mais
destemidos, Margson e Luiz mais cautelosos atrás, algumas vezes tirando a lama
com a mão pra bike simplesmente poder rodar...Haja força e emoção!!!
Chegamos aliviados e ainda um pouco estressados para a nossa terceira
travessia de rio, para alcançarmos Barra de Camarajibe, com o barqueiro Tonho,
que nos cobrou apenas R$ 1,00 de cada um. E ainda ajudou no embarque e desembarque
das bikes! O Margson, bonzinho, pagou R$ 10,00 ao amigo pelos bons préstimos,
em nome de todo o grupo. Ele ainda nos indicou um lava-jato nas proximidades,
pra tirar toda a sujeira das nossas “magrelas”, com certeza mais “gordinhas”
depois de tanta lama...
Bikes enxutas novamente, rumamos para Porto de Pedras-AL num asfalto
simples, com a companhia de diversos carcarás (uma espécie de gavião pequeno)
pelo caminho, talvez até o mesmo que deu um rasante no Marco na sua primeira
viagem de bike pela região...
Depois
da coxinha e do pastel no bar do Cal, atravessamos mais um rio de barco a
motor, pagando R$ 2,00 cada um pela bela travessia, com direito a fotos.
Mais 5 Km de terra novamente, mas sem lama, e perto de Japaratinga-AL
encontramos um casal de ciclistas colombianos, Alejandro e Maria, que viajavam
de bike de Belém do Pará até o Rio de Janeiro, com previsão de dois meses de
pedal. Que senhora aventura!!!
Desaconselhamos o camping selvagem que estavam prestes a realizar à
beira-mar, sem nenhuma infra-estrutura ou segurança. Sugerimos que seguissem
até Porto de Pedras, com mais apoio, e que trocassem os pneus finos por outros
com cravos, para evitar furos e tombos na lama...Boa viagem, amigos, guardamos
boas fotos de lembrança!!!!
Logo chegamos ao bom asfalto novamente e, como estava anoitecendo e com
ameaça de chuva de novo, Marco e Daniel voaram na frente, para deixar um
bilhete na casa de uma amiga deste no caminho. Já quase noite, passamos em
frente ao Bar do Zé Peidão e o Bar do Zé Cagão, bem defronte um do outro na
pista, logo perto de Maragogi. Lógico que paramos pra registrar em fotos,
alguém podia não acreditar, né? O pior é que Marco e Margson descobriram, na
viagem de bike do ano anterior, que o nome do Zé Peidão, dito por ele mesmo, é
de registro mesmo, José Peidão da Silva, e outro é seu tio, José Cagão da
Silva...
Quando chegamos em Maragogi, na Pousada Galé Mares, bem na beira-mar, às
17:45hs, outra surpresa: mais um furo no pneu traseiro do Margson (o quinto
dele e décimo dos “Siribinhas”), que consertamos enquanto um macarrão
maravilhoso (de novo???) estava sendo preparado num restaurante ao lado da
pousada. Não precisa nem dizer que devoramos com vontade, e pagamos R$ 10,00
cada um com muito prazer, ainda sem banho mesmo...
Afinal, naquele oitavo dia pedalamos 97 Km e fizemos muita força com a
lama que grudava nos pneus, fomos desafiados por mais 35 ladeiras, a média
permaneceu em pacatos 13 Km/h, e pagamos R$ 25,00 cada um pelo pernoite na
pousada, com direito ao café.
No
nono dia de viagem, 13 Jul, depois do tradicional “marmitão”, saímos já debaixo
de chuva às 08:30hs de Maragogi, decididos a pernoitar em Barra de Sirinhaém-PE
a 70 Km dali, caso tudo corresse bem, deixando mais 70 Km para o último dia
chegando em Recife.
Foi a melhor solução, uma decisão muito sábia,
pois foi só entrar no estado de Pernambuco, antes de São José da Coroa Grande,
para o acostamento sumir e nos deixar muito vulneráveis na estrada, os veículos
passavam muito perto de nós e nos assustávamos sempre. Acontece que a PE-60, a
estrada do litoral que estávamos, recebia todo o trânsito desviado da BR-101,
interrompida em Palmares-PE devido à ponte destruída pelas enchentes.
Nosso “plano de vôo” previa a passagem por Barreiros-PE, com entrada em
Tamandaré-PE, prosseguindo pela praia até o nosso destino. Mas ficamos
inteiramente desolados ao vermos a grande confusão e a destruição de tudo ainda
na entrada de Barreiros. Chegamos a tirar fotos das casas destruídas pelo rio
que encheu há poucos dias, levando a miséria e a sujeira de todo o tipo para um
local outrora próspero...Barracas foram montadas para os desabrigados pelo
Exército, em local alto, assim como a lama e toda a sujeira retirada da cidade
era despejada numa área ao lado da estrada, com um odor horrível de coisa podre...Que
tristeza!!!!
Continuamos nossos sustos até a entrada de Tamandaré, de tão aliviados
tiramos algumas fotos da Reserva Biológica de Saltinho, sua cachoeira e sua
belíssima vegetação formando um túnel...Um vento contra miserável e, 8 Km
depois, paramos numa padaria no centro da cidade de Tamandaré pra comer pão
doce, já era perto do meio-dia.
A partir dali foi bom demais, fomos pedalando pela praia cerca de 7 Km,
com vento a favor e um certo esforço na areia fofa, maré sequinha, até a Praia
dos Carneiros. As fotos registraram o cenário paradisíaco ao longo daquela
orla, nos deixando encantados mesmo...
Quando chegamos para a travessia do Rio Ariquindá para o outro lado,
chamado Guadalupe, não encontramos o barqueiro conhecido do Marco, que estava
de folga. Enquanto esperávamos outro, o próprio Marco passou uma conversa num
barqueiro, chamado Alex, que chegava com turistas e, depois de uma bem-sucedida
negociação, acertamos a travessia para todos por apenas R$ 12,00, quando
inicialmente ele concordou em nos levar por R$ 12,00 cada um...Apelamos para a
caridade que ele faria, tiramos foto dele e do barco pra aparecer nas revistas
de bike, e só assim ele baixou o preço...E ainda, ao chegarmos, tirou cada uma
das bikes do barco, só não aguentou sozinho a do Margson, a última a
desembarcar, por causa do peso (muita bagagem...), tivemos que ajudá-lo. Valeu,
amigo, Deus lhe pague em dobro!!!!
Ainda tivemos que empurrar as bikes um pedacinho na areia e subir umas
escadas pra atingir o asfalto final até Barra de Sirinhaém. Já sonhávamos com o
banho de piscina na pousada que Marco e Margson ficaram no ano anterior,
fazendo a alegria do professor de natação, que brincava feito um patinho...Que
desilusão, ao chegarmos a tal pousada estava totalmente ocupada pelo pessoal
que construía a rodovia e a ponte sobre o rio que acabamos de cruzar.
Perguntamos por alternativa, e indicaram uns quartos de aluguel da D. Severina,
perto dali, que nos acolheu muito bem, mas teríamos que ocupar só depois das
17:00hs, e ainda eram 16:00hs...
Acertamos tudo com ela, deixamos as bagagens no quarto e fomos, de bike
mesmo, tratar de arrumar o bendito macarrão pra jantar no Restaurante da
D.Lila. Enquanto ficava pronto, fomos tirar fotos no encontro do rio com o mar,
ao fundo a Ilha de Santo Aleixo e um belo pôr-do-sol.
De novo, mas pela última vez na viagem, tivemos o prazer de comer um
suculento macarrão, com fartura, por módicos R$ 8,00 cada um, apagando de vez o
trauma do primeiro dia, na Praia do Forte...No dia seguinte, já estaríamos
jantando em casa...Será que alguém ainda ia comer macarrão???
Ao final daquele dia pedalamos 67 Km, pegamos mais 28 ladeiras, tomamos
só uma chuva e pagamos R$ 15,00 cada um pelo pernoite.
No dia seguinte, o último da nossa
aventura, 14 Jul, acordamos bem cedo e fomos já prontos para a padaria tomar um
café reforçado e fazer o “marmitão”. Sabíamos que teríamos mais lama e poças
pelo caminho em frente, por isso tratamos de nos alimentar e hidratar bem.
Mas ainda tínhamos mais uma travessia de rio, o sexto, até alcançarmos
Toquinho, por R$ 2,00 cada um. Já do outro lado, pegamos mais uma chuva boa
logo de cara, um pouco de lama e muitas poças na estrada para Serrambi, algumas
delas bem profundas, mas com desvio providencial pelas laterais pra gente não
submergir...Marco e Margson passaram por este mesmo sufoco ano passado, e quase
afundaram no meio de uma dessas poças...
Assim chegamos ao Pontal de Maracaípe, onde tivemos que esperar um pouco
para os barqueiros acordarem, para a nossa sétima e última travessia de rio.
Enquanto esperávamos, ficamos apreciando um monte de carneirinhos pastando ali
bem perto, uns até brincavam e faziam pose pro Daniel e Margson tirarem
fotos...
Pagamos R$ 2,00 cada um, com direito a molhar nossos calçados até o
barco (íamos secar em casa mesmo...) e empurramos um pouco as bikes até a
beira-mar. Tentamos pedalar na areia fofa, mas estava muito cansativo e
seguimos pela estradinha um pouco acima, passando por Maracaípe até Porto de
Galinhas. Passamos de passagem pela vila, por causa do grande movimento,
paramos para alimentação, hidratação e “retoque da maquiagem” (protetor solar)
num posto logo depois, e lubrificamos as correntes pela última vez.
Tínhamos a intenção de seguir pela estrada de terra da Usina Salgado,
mas tivemos que dar meia volta por causa dos alagados e enfrentamos mesmo o
asfalto até a famigerada PE-60 de novo. Marco e Daniel aproveitaram o vento a
favor pra botar um “peguinha”, Margson e Luiz foram “na manha”, e depois todos
foram juntos fazendo trilha no acostamento, com lama e tudo...Abandonamos, em
definitivo, a PE-60 na entrada para Gaibu, seguindo até Itapuama, onde tomamos
um refrescante caldo de cana depois de mais alguns sustos no asfalto sem
acostamento.
Um trechinho de terra e tivemos o prazer de pedalar na ciclovia da nova
Reserva do Paiva, um excelente passeio e pausa pra tirar fotos da bela ponte,
recentemente inaugurada.
Mais um pouquinho de pedal e, depois de 10 dias de
muita aventura e muitas histórias pra contar, chegamos ao barzinho dos amigos
do Margson, à beira-mar de Candeias, onde brindamos com água de côco o final da
nossa longa aventura...
Assim, neste último e derradeiro dia, pedalamos 94 Km até nossas casas,
subimos mais 22 ladeiras e pegamos apenas uma chuva.
No total, 832 Km de prazer no pedal em 10 longos dias, 382 subidas de
todos os tipos, 15 chuvas, 07 travessias de rio, 10 pneus furados (só o Luiz
escapou, apesar dos pneus semi-slicks usava fitas anti-furos) e uma média
horária de 13 Km/h bem mansos...Sim, as “partes baixas” resistiram bem, assim
como todos chegaram mais ou menos inteiros, uns mais outros menos...
Fazendo as contas, o Marco gastou R$ 425,00 em dinheiro na viagem, tudo
computado, mais R$ 38,00 no cartão e R$ 138,00 do ônibus para Salvador,
totalizando R$ 601,00, mas a satisfação de fazer uma longa viagem de bicicleta
não tem preço...
Não podíamos deixar de agradecer ao bom Deus o nosso inteiro sucesso,
assim como agradecemos, de coração, o apoio e as “rezadinhas” das nossas
queridas e sempre adoradas famílias, além de parentes e amigos, todos torcendo
e rezando para que esta nossa “falta de juízo” fosse abençoada e iluminada por
todos os anjos e santos...Valeu, pessoal !!!!
Aos nossos amigos do Projeto SARAMARÉ 2010, apelidados carinhosamente de
“Siribinhas”, só nos resta agradecer uns aos outros pela agradável companhia
nestes 10 dias de convivência. Em momentos de alegria ou de estresse, e diante
de ritmos bastante variados, a certeza de que os laços de amizade concretizados
ao longo dos anos sempre prevaleceram, superando fraternalmente as diversas
situações de desgaste físico ou mental.
Estamos todos de parabéns pela garra, determinação e superação de
limites na chegada triunfal ao “lar, doce lar”, uma vitória de todos pela
simples união dos esforços individuais, pelo incentivo e pela motivação que
movem amigos para sempre...
Que Deus abençoe sempre estas nossas “loucuras”!!! Como dizem os
sul-africanos, voltamos mais “bafana, bafana” (garotos, garotos)!!! Até a
próxima aventura no pedal !!!
Galeria de fotos do Projeto SARAMARÉ